por Raimundo Filho
“Estava indo
no caminho de Jericó com minhas bagagens. Aparentemente o caminho era seguro,
pois já tinha feito este trajeto algumas vezes e nunca me ocorrera nada. Mas, repentinamente,
surgiram salteadores. Infelizmente, fui assaltado! Não só me levaram tudo o que
eu tinha, mas num ato de crueldade e covardia, os assaltantes me espancaram de
tal maneira que minha vida estava por um fio. Não conseguia me erguer e fiquei
ali agonizando, na expectativa de ajuda ou até mesmo de que minha morte ali
aconteceria.
Por
um acaso da sorte, um senhor distinto, muito bem vestido, vinha ao longe e pelo
passo que vinha passaria bem próximo a mim; foi isso o que pensei. Mas ele
passou distante sem nem mesmo olhar se eu estava vivo, carregava em suas roupas
ornamentos, ao chegar mais perto, percebi que eram de algum dos religiosos da
cidade vizinha, por que não parou? Nem mesmo socorro pediu.
E
que grande alívio senti quando depois de um certo tempo gemendo e sangrando vi
uma outra pessoa chegando, tendo vestes totalmente brancas. Seria um anjo
aquela minha visão? Não estava mais sabendo de nada, visto meu estado de dor e
debilidade. Só queria mesmo que de alguma forma este fosse me ajudar, me
socorrer. Mas da mesma maneira como o primeiro, passou de longe, era um dos
levitas, um judeu! O primeiro poderia estar apressado, afinal era um sacerdote,
meu estado era como de um morto e para estes não se poderia tocar em mortos. Seria
considerado imundo tanto o sacerdote como o levita, eles poderia pensar assim. Como
saber se eu estava morto ou precisando de ajuda? Nem ao menos passaram perto de
meu corpo? Melhor seria ter sido
alucinações, mas dava para escutar muito bem os passos apressados e sentir a
poeira levantada pelos seus calçados.
Como poderia
sobreviver mais tempo ali, sem água, sem comida, quase sem roupas, muito
ferido, sentindo-me bastante debilitado, sem forças para andar. Nada mais
passava em minha cabeça, de como poderia sair dali, nenhum socorro veio dos
religiosos! Nenhuma outra ajuda mais pensava que poderia vir.
Eis que de
repente senti alguém me tocando, este com muito cuidado estava passando vinho e
azeite sobre minhas feridas, fez ataduras e essas ataduras não sei de onde ele
as tirou. Conseguiu assim estancar meus ferimentos, delicadamente colocou-me em
seu cavalo e ia pelo caminho bem devagar, para que não me machucasse mais, me
conduziu a uma estalagem. Só isso já me seria muito útil, mas resolveu ficar
aquela noite comigo. Não lembro se falou muito, mas suas ações falaram muito
mais, nunca as esquecerei, não era judeu mas sim samaritano.
Esperava essa
atitude dos religiosos, dos que servem nos templos, dos que andam de forma
diferente e fazem muitas orações. Mas tal gesto veio do inesperado, do improvável
veio uma ação que nunca tinha visto antes e acho que nunca mais poderia ver. Após
aquela noite ele foi até a porta, falou com o hospedeiro, pagou-lhe uma
quantia, que me garantiu cuidados por algum tempo. No entanto, o que mais me
surpreendeu foi quando ele falou que se houvesse mais gastos, ele pagaria
quando voltasse.
Ainda estou
nesta hospedagem, há feridas a serem cicatrizadas, há dores para ser aliviadas,
há forças a serem reconquistadas, mas o que me faz ter uma grande expectativa é
saber que ele vai voltar! Ainda não entendi o que o motivou a si doar, a vir
até mim naquelas condições, a custear a minha recuperação, nem mesmo sei se um
dia entenderei, mas quero conhecê-lo, quero ser-lhe grato!”
Essa narrativa
poderia ser o relato do homem que foi assaltado na parábola contada por Cristo,
comumente conhecida como a parábola do bom samaritano. Também não é somente uma
reflexão sobre esse relato das Escrituras. Posso dizer com sinceridade e de
forma acertada de que todo aquele que O conhece, que experimentou o novo
nascimento, compartilha um pouco daqueles sentimentos. Nesta nossa hospedagem
ainda poderemos sentir dores e perceber feridas, afinal estamos no processo de
santificação e sem dúvidas temos esta expectativa: queremos vê-lO como Ele é. Também
prometeu que brevemente voltará e poder conhecê-lO de uma forma inigualável e
assim sermos eternamente gratos!